Dezembro de 2024.
Essa é um série de pinturas em placas de MDF intitulada “4 MONTHS” (por isso elas não são vendidas separadamente). Cada peça representa uma das quatro etapas do meu voluntariado de 2023, entre Nova Iorque e o Havaí.
A série funciona como um diário visual simbólico, misturando texto, geometria, elementos naturais, referências culturais e sentimentos vividos intensamente em cada lugar, que juntos acabaram construindo uma narrativa contemporânea. A escolha do MDF como suporte traz um ar mais cru e tátil.
Obra 1:
11:11 (representa Cambridge, em Nova Iorque)
Essa obra é a mais simples das quatro, e abre a jornada com uma estética ritualística e espiritual. O número 11:11 surge como símbolo de sinais, portais e manifestações, que aponta para o início de uma transformação profunda na minha vida.
A frase “make a wish” conecta com o desejo de mudança e alinhamento com o universo, e o fundo verde remete à natureza e à vibração tranquila da fazenda em que eu estava.
Aqui, o voluntariado pareceu ter plantado a semente da reconexão interior: a entrada simbólica no portal da jornada que estava iniciando.
Obra 2:
UNTITLED I (representa a Big Island, no Havaí)
Meu segundo voluntariado foi em um rancho de cavalos e nessa obra o xadrez é ressignificado: os peões aludem diretamente ao ambiente do rancho, e à figura do cavalo, sugerida de forma indireta pela associação com o jogo.
A frase “I am the king” é uma declaração de força e identidade em meio ao trabalho rural em que eu estava vivendo e aos aprendizados sobre persistência e liderança.
A cenoura representa a melanina e sol do Havaí, pois já nos primeiros dias no local, era possível perceber que a pele ficava bronzeada facilmente, pois o trabalho embaixo do sol era diário.
Essa é uma obra sobre o corpo em movimento, o trabalho com os animais e o nascimento de um sentimento de autoconfiança real.
Obra 3:
UNTITLED II (representa Moloka’i, no Havaí)
Meu terceiro voluntariado aconteceu em uma fazenda de frutas e essa é a obra mais emotiva da série.
A presença do caju, fruta tropical brasileira, representa as minhas raízes e a minha conexão com o Brasil, e o olho chorando reforça o impacto da saudade nesse período (tanto da família quanto dos amigos).
A frase “saudade é uma emoção compensatória” me veio a cabeça aleatoriamente quando eu estava nesse local, e eu tinha anotado no meu bloco de notas. Ela acabou sendo incluída na obra para que tivesse esse tom filosófico e sensível.
A saudade é uma emoção compensatória porque ela tenta equilibrar o que está ausente com aquilo que foi vivido. Ela transforma a ausência em presença simbólica. Ela é o eco daquilo que ainda importa.
Obra 4:
UNTITLED III (representa Kaua’i, no Havaí)
Meu quarto e último voluntariado foi em um hostel. E última obra fecha a série com intensidade e vivacidade.
Nos dias nesse voluntariado, eu saí para pescar e navegar pelo mar durante alguns dias, e por isso o peixe chamado Ahi (atum) é o tema central. Esse peixe traz com ele toda a força simbólica do fogo, já que o nome significa literalmente isso em havaiano. O fato de que o peixe “queimava as mãos” ao ser tocado adiciona uma camada quase mística à narrativa.
O sashimi representa o poke maravilhoso que comi com esse peixe e a frase “caliente como el fuego” reforça a vivência sensorial intensa.
Essa é a tela da entrega, da vivência completa, do clímax energético da viagem.
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Na instalação com as quatro obras, o espectador percorre a trajetória de forma não-linear, mas coerente. O uso do texto escrito à mão, formas geométricas e símbolos visuais universais e culturais acaba gerando uma linguagem autoral forte.