Maio de 2025.
Essa obra, inicialmente, nasceu em fevereiro, em meio a uma crise de ansiedade. Naquele momento, esbocei apenas um cavalo de carrossel, preso em sua forma ornamental, mas com expressão de dor e sofrimento (uma metáfora direta para a sensação de estar girando em círculos, sem controle, apenas suportando).
Meses depois, após o falecimento da minha tia (que enfrentava um câncer e havia passado por uma cirurgia intestinal), retomei a obra com uma nova urgência: falar sobre a morte. Mas não de forma clichê, melancólica ou sombria, e sim como um rito de passagem, um impulso inevitável que, em vez de estagnar, pode nos conduzir pra frente.
Me inspirei na obra “Riding with death” (1988), de Basquiat. É uma das últimas peças do artista e que, pra mim, carrega uma dor silenciosa e desconcertante. Ao contrário do Basquiat, onde a figura humana cavalga a morte, aqui a própria morte é quem a monta.
Essa inversão é proposital: se na obra de Basquiat a trajetória parece retroceder, aqui o movimento é firme e pra frente, como se dissesse: “a morte não é o fim, é transição”.
O cavalo, originalmente estático no carrossel, agora se contorce em ação, seu olho explode em luz dourada, relacionando a algo sagrado e as linhas brancas ao redor de sua anatomia evocam movimento.
O fundo da tela, em vermelho profundo, carrega manchas (representações dos tumores que marcaram o corpo da minha tia). O rasgo vermelho, que corta a composição como uma ferida aberta, representa o sangue, a cicatriz, a dor física e emocional. Uma lembrança literal do pós-cirúrgico que ela enfrentou, e daquilo que permanece mesmo após a partida.
O fato do rasgo dividir o cavalo em 3 partes, remete à fragmentação do ser: a separação entre instinto (pernas traseiras), ação (dianteiras) e consciência (cabeça).
A escrita difusa no fundo são como pensamentos subconscientes, como se estivéssemos vendo uma mente em colapso.
A frase “ride or die” vem da cultura de lealdade extrema, mas aqui ganha outro significado: viver com intensidade ou aceitar o fim como parte do caminho. A vida é curta e incerta (às vezes brutal), mas é nossa, até o último fôlego. A morte, como montadora do cavalo, não é uma sentença, mas um lembrete: não pare!