Outubro de 2025.

 

A ideia para essa obra já tinha surgido a algumas semanas atrás, porém demorei para materializar ela por conta de outros projetos que eu precisava finalizar.

 

Nesta obra, o “MONO-LISO” (figura humanoide representada em obra passada) agora reencarna na forma de um boneco LEGO. O LEGO, com sua estrutura padronizada e rígida, simboliza o homem contemporâneo fabricado, moldado pela lógica do desempenho e do consumo.

 

Porém, sobrepondo a esse corpo industrial o sistema digestivo humano, eu rompo a carapaça do artifício e exponho algo que o LEGO não deveria ter: fragilidade.

 

Esse gesto é ao mesmo tempo uma confissão, pois a presença do sistema digestivo nessa peça tem uma dimensão muito mais íntima e simbólica.

 

Tenho atravessado alguns problemas físicos ligados ao estômago, e com isso materializei a minha própria condição dentro da obra, como se eu dissesse que o corpo, antes invisível no discurso da mente e da arte, agora exige ser ouvido. O estômago é o centro da digestão e das emoções (onde sentimos ansiedade, medo, repulsa, fome, vazio), e aqui se torna o epicentro da narrativa.

 

A frase “OF COURSE, THE MAN’S AMBITIOUS. HE HAS A HUNGER FOR POWER.” atua como um contraponto irônico à minha vulnerabilidade revelada. A “fome de poder” se entrelaça à “fome simbólica”: fome de estabilidade, de paz interior.

 

O estômago que adoece é o mesmo que tenta digerir o mundo: suas exigências e seus ritmos.

Assim, o que poderia parecer apenas uma crítica social sobre ambição se torna também um comentário sobre os limites do corpo e da alma, sobre o quanto o ser humano suporta antes de adoecer.

 

A obra foi feita em papelão reaproveitado, reforçando a ideia de corpo como produto. Pintura acrílica com uso de diversos outros materiais, como marcador permanente, grafite, carvão, lápis de cor, bastão de óleo, corretivo líquido e stencil ao fundo.