Março de 2025.


Essa também é uma das minhas obras favoritas.

 

Aqui a minha intenção foi de colocar a minha criança do passado (à esquerda, um ser mais etéreo, vulnerável, aberto ao mundo e ainda intacto) frente a frente com o meu “eu” atual (à direita, simbolizando o adulto). Porém existe algo de monstruoso nessa figura atual: a expressão é coberta por riscos e dentes afiados (rabiscos feitos com marcador permanente, bastão de óleo, lápis de cor e lápis dermatográfico, justamente pra criar várias texturas e diferentes traços), remetendo a um monstro interior, os tais “demônios” que o tempo e a vida moldaram.

Essa obra representa justamente esse diálogo interno entre vulnerabilidade e força.

 

Essa oposição acaba sendo amplificada não só pelas cores frias x quentes, mas também pela diferença entre as expressões. O passado olha, curioso e assustado. O presente grita, contendo algo prestes a explodir.

 

O uso de azul e vermelho como forças opostas é clássico, mas aqui nessa peça o azul não é somente frio, ele acaba sendo nostálgico. E o vermelho não é somente quente, ele é inquieto.

 

A separação das figuras nas laterais cria uma simetria oposta. Ao centro, há um vácuo onde os dois lados se encontram: esse “vazio” é o campo do conflito, o espaço entre quem eu fui e quem eu sou.

 

Usei pinceladas de tinta acrílica e elementos gráficos em grafite e carbono, que lembram rótulos químicos, setas, ícones de perigo e fórmulas, evocando a complexidade mental e emocional do adulto. Gosto de usar essa sobreposição de elementos porque cria camadas, literais e simbólicas.

 

O texto escrito à mão são trechos do livro “Shantaram” e contribuem para a sensação de diário íntimo e são frases que reforçam o peso emocional. E a frase “reach out” é como um pedido de ajuda.

 

Pra finalizar, o seguinte questionamento:

o seu eu-criança do passado reconheceria o adulto que você é hoje? Ela teria medo do que você se tornou ou entenderia os desafios que moldaram a sua jornada?